quarta-feira, 27 de março de 2013

Reportagem Especial Economia do Paraná

quinta-feira, 21 de março de 2013

Paraná, um Estado Rico e Desigual

O Paraná é um Estado privilegiado. Temos terras férteis, água em abundância, e um povo trabalhador. Com apenas 2,3% do território nacional, somos o segundo maior produtor de grãos do país, responsáveis por 23,5% de toda a produção brasileira de grãos. Somos o maior produtor de milho, feijão e trigo, o segundo na produção de soja, mandioca e cana de açúcar. Criou-se o mito de que somos um povo frio e arredio, uma gente introspectiva. Especula-se que este comportamento seja fruto da colonização européia e mesmo conseqüência do clima frio. O paranaense é mesmo diferente. Talvez não sejamos o povo mais alegre do Brasil, o mais festeiro nem tenhamos a malemolência dos nordestinos, mas quem conhece o Paraná e os paranaenses sabe que nossa gente é generosa, honesta e sobretudo trabalhador. Porque somos um Estado cuja base econômica é a agricultura, nosso povo está acostumado à vida dura da roça, de levantar quando ainda raia a madrugada e dormir cedo, porque no dia seguinte o trabalho continua. Isso não nos diminui, pelo contrário. Acreditar no trabalho, ser sério e honesto, é qualidade. E estes são valores cultivados há várias gerações, passados de pai para filho. Desde pequeno, o paranaense aprende a valorizar a importância da terra, do trabalho. Hoje, somos a quinta economia do país, participando com 6% do PIB nacional, segundo dados do IBGE do ano de 2000. Ao longo da década passada nosso Produto Interno Bruto cresceu 3,4% enquanto a média brasileira foi de 3%. Em 90, tinhamos uma produção de grãos de 13 milhões de toneladas. Em 2002, produzimos 22 milhões. Somos o primeiro produtor nacional de frangos, o terceiro na produção de suínos e de leite e o sexto produtor de bovinos. O Paraná é o quarto Estado que mais exporta, responsável por 9,4% das exportações brasileiras. Oitenta por cento do território paranaense é ocupado por propriedades rurais, das quais as pequenas e médias somam 86% do total. Embora a população rural represente apenas 22% dos paranaenses, os dois milhões de trabalhadores rurais, são os maiores responsáveis pela riqueza do Paraná. Oitenta e um por cento dos nossos produtores são agricultores familiares, que vivem em pequenas propriedades, trabalham duro, e vivem longe dos grandes centros urbanos. Somos responsáveis por grande parte da riqueza brasileira, mas vivemos o paradoxo de ser um Estado rico, mas socialmente desigual e injusto. Segundo estudos realizados pelo IPARDES tomando como indicador o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH 2000, 71% da população rural vive em municípios com IDH inferiores aos do Brasil. Em relação à dinâmica populacional do Estado, a zona rural vem perdendo população desde as décadas de 70 e 80, quando ocorreu o processo de mudança da base de produção agropecuária, através da expansão da utilização dos insumos químicos, biológicos, da mecanização e da modificação da pauta de produtos agropecuários. Em 1970, segundo dados do IBGE, o Paraná tinha 1.330.708 homens e 650.763 mulheres trabalhando no campo. Este número baixou para 864.136 homens e 423.496 mulheres ocupados no meio rural em 95/96. Nas regiões Norte e Noroeste, por exemplo, o êxodo rural foi causado, basicamente, pelo declínio da cafeicultura e posteriormente da cultura de algodão, e pela expansão da área de pastagens com a pecuária extensiva. Sem trabalho, os trabalhadores rurais migraram para outros Estados, em busca de novas fronteiras agrícolas ou para centros urbanos maiores no Paraná, ocupando periferias das grandes cidades, buscando melhores oportunidades de ocupação e renda. Segundo dados do IBGE, em 1970 havia 554.488 estabelecimentos rurais no Paraná. Quinze anos depois, em 1985, havia 466.397 propriedades enquanto nos anos de 95-96 o número de propriedades declinou para 369.875. As principais mudanças em relação a agricultura , foram iniciadas no governo Richa, com uma efetiva ação de governo para levar melhores condições de vida ao homem do campo. Durante os governos de Álvaro Dias e Roberto Requião essas ações foram intensificadas. Graças aos investimentos iniciados na década de 80, com o trabalho de preservação ambiental, combate a erosão, adequação de estradas rurais, execução de microbacias, importações de bovinos e ovinos e um programa integrado de articulação à agroindústria, que tive a honra de coordenar como secretário de Agricultura, o Paraná passou a bater recordes de produtividade e tornou-se um dos maiores produtores de grãos do país. Principal vocação do Estado, atividade que mais gera empregos e renda, a agricultura foi relegada no governo Lerner, que adotou uma política equivocada de incentivos à instalação de indústrias automobilísticas. Para cada R$ 1 milhão investido na agricultura, gera-se 200 empregos, enquanto com o mesmo valor a indústria automobilística gera apenas 85 postos de trabalho. A falta de uma política agrícola conseqüente por parte do governo federal também contribuiu para o agravamento das desigualdades sociais no país. Estudos do Ipea demonstram que nos últimos anos os 50% mais pobres da população ficaram com 10% do PIB, enquanto os 10% mais ricos ficaram com 50% do PIB. Mais de 50 milhões de brasileiros vivem com renda inferior a 80 reais mensais, sendo que 45% deste total são jovens que ainda não completaram 15 anos. As políticas sociais fracassaram e o grande desafio que se coloca hoje é o de incluir econômica e socialmente milhões de brasileiros. No Paraná, do ponto de vista dos indicadores sociais, a pobreza no meio rural permaneceu inalterada e, em algumas regiões, aumentou. Segundo dados do IPARDES, 50% dos agricultores paranaenses apenas subsistem. Os produtores empresariais e agricultores familiares ligados às agroindústrias são os responsáveis pelo desempenho produtivo da agricultura paranaense, mas representam apenas 12% do total, segundo o mesmo estudo. A grande contradição é que os que produzem a riqueza do Paraná representam a parcela mais pobre de sua população. Batemos recordes de produção, adotamos tecnologia de ponta em diversas culturas, tornamos nossa agricultura extremamente competitiva, responsável por aproximadamente 55% das exportações do Estado, mas nosso produtor rural não usufrui desta riqueza. Talvez porque nenhum dos governos tenha assumido o combate à pobreza como prioridade e investido em um programa de segurança alimentar. De nada adianta batermos recordes de produção se os produtores rurais não puderem usufruir dos resultados dessa produção. Este é o grande desafio do governo: reduzir as desigualdades e promover uma melhor distribuição de renda entre paranaenses.